O medicamento já conhecido por reumatologistas atua bloqueando reações inflamatórias descontroladas que surgem em quadros graves da doença
O medicamento anakinra, comumente usado para tratar doenças reumáticas, está apresentando resultados "encorajadores" para formas graves da Covid-19, reduzindo o risco de morte e a necessidade de respiração artificial, de acordo com um estudo francês. "A redução significativa na mortalidade associada ao uso de anakirna contra a Covid-19 neste estudo é encorajador nestes tempos difíceis", escreve o reumatologista Randy Cron, da Universidade do Alabama (Birmingham, Estados Unidos), na revista especializada The Lancet Rheumatology, onde a pesquisa é publicada e destaca o "perfil de segurança favorável" deste medicamento bem conhecido pelos reumatologistas.
O objetivo é combater a "tempestade de citocinas", uma reação inflamatória descontrolada que surge nas formas mais graves de pneumonia causadas pela doença, levando à síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) e que ocorre quando os pulmões não fornecem oxigênio suficiente aos órgãos vitais e o paciente precisa de ventilação artificial.
Especificamente, o anakinra bloqueia uma das citocinas envolvidas nessa "tempestade inflamatória", a interleucina-1 (IL-1). De acordo com a equipe médica, Thomas Huet e colegas do Grupo Hospitalar Saint-Joseph de Paris (GHPSJ), a administração por injeção subcutânea durante 10 dias do anakinra a 52 pacientes graves do coronavírus permitiu uma "redução estatisticamente significativa no risco de morte e permanência em reanimação para assistência respiratória por ventilação mecânica".
Um quarto dos pacientes tratados com anakinra foram transferidos para reanimação ou morreram, em comparação com 73% que não receberam esta bioterapia. O grupo de comparação foi composto por 44 pacientes que estavam na mesma instituição. No grupo que recebeu anakinra, houve uma rápida diminuição na necessidade de oxigênio após 7 dias de tratamento.
"Na ausência de testes terapêuticos que incluam medicamentos imunomoduladores para nossos pacientes, a decisão (...) adotada para propor anakinra, de acordo com os critérios de gravidade decididos por consenso, mudou rapidamente o aspecto da doença na enfermaria", explica o professor Jean-Jacques Mourad, co-signatário do estudo. "O benefício era 'palpável' diariamente", acrescentou. "Atualmente, há uma dúzia de testes clínicos explorando o bloqueio da citocina IL-1 associada à síndrome da tempestade inflamatória da Covid-19", escreve o Dr. Randy Cron.
Três pequenas séries de casos (incluindo um italiano) relataram que o anakinra beneficia pacientes que contraíram a doença causada pelo novo coronavírus. "Mas este estudo fornece as evidências mais conclusivas até o momento de que o anakinra pode beneficiar pacientes que sofrem da síndrome da tempestade de citocinas associada à Covid-19", afirmou.
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